segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Ética, moral e praticidade!



(Parte da entrevista realizada ao Prof. Mario Sergio Cortella por Jô Soares no dia 22/06/08.)

Ética - É o conjunto de valores e princípios que eu e você usamos para decidir as três grandes questões da vida, que são:

"Quero - Devo - Posso"
Quais são os princípios que usamos em nossas vidas?
- Existem coisas que eu quero mas não devo;
- Existem coisas que eu devo mas não posso;
- Existem coisas que eu posso mas não quero.
Quando é que você tem paz de espírito? Você tem paz de espírito quando aquilo que você quer é o que você pode e é o que você deve.

Como se define a ética? Através dos modos, através do exemplo, através de princípios da sociedade, religiosos ou não; através de normatizações...

Há vinte anos, num auditório, algumas pessoas fumariam e outras não. Há dez anos haveria uma placa: "É proibido fumar". Hoje não é mais preciso nenhuma imposição, ninguém fuma por censo comum. Às vezes isso surge como norma. Quando o cinto de segurança passou a ser obrigatório no Brasil, tinha gente que até vestia a camisa do time de futebol Vasco da Gama (que é branca com uma faixa transversal preta) só para enganar o agente da lei, tal a má vontade em obedecer a essa normatização. Hoje, todo mundo entra no carro e automaticamente coloca a faixa, sem nem lembrar da multa. - Isso significa que a ética vai se construindo.

Não existe ninguém "sem ética". O deputado que frauda, rouba, o falso amigo que mente e engana e o patrão que explora seus empregados? Esses têm uma ética contrária à ética da maioria. São "antiéticos". Mas isso ainda é um tipo (deturpado) de ética.
Moral, imoral e amoral.

Amoral é alguém incapaz de decidir, escolher e julgar: uma criança até determinada idade; um idoso com síndrome de Alzheimer. Um demente social... Estes são amorais.

Uma pessoa de trinta anos, saudável e consciente, amoral, não existe. Moral é a prática de uma ética. Ética é a concepção dos princípios que eu escolho, Moral é a sua prática.

Eu tenho um princípio ético: não me apoderar do que não me pertence. Meu comportamento moral é se eu roubo ou não. O princípio se traduz numa moral. Uma pessoa amoral é alguém incapaz de decidir, julgar e avaliar. É o que a lei chama de "incapaz".

Quem é imoral? Existem pessoas que consideram, por exemplo, o beijo entre dois homens imoral. - Isso depende da referência de moral da sociedade e da época relacionadas.

Se eu fosse um grego clássico: Sócrates, o principal pensador desse período, era casado com Xantipa e tinha um amado, Alcebíades, um jovem general de 27 anos. Aliás, quando Sócrates morre, está nos braços de Alcebíades. - Xantipa entende isso, lá no século IV aC, como uma coisa normal daquela cultura. Hoje, talvez isso não seria entendido como uma coisa tão perturbadora, mas há 30 anos seria inadmissível.
Isso não quer dizer que a ética é relativa. A moral é que é relativa. A ética pertence a uma época e a um grupo, mas ela traz sempre a tentativa de ser universal. - Como as cartas dos Direitos Humanos: há 40 anos nós estamos discutindo essas questões de 1968. E há 60 anos estamos discutindo a "Declaração Universal dos Direitos do Homem". São tentativas de se chegar a uma ética universal, comum a todos os seres humanos: "toda criança tem que ser respeitada, não pode haver discriminação entre os povos", etc, etc... Esses princípios devem ser preservados? Se a resposta for positiva, não podemos dizer que a ética é uma coisa relativa. Existe uma força muito maior e desconhecida que nos diz que as crianças devem ser respeitadas, que o preconceito não deve ser tolerado e outros princípios básicos como esses.
Como isso se traduz na prática? Esta é uma outra percepção.

Praticidade - O prático nem sempre é o certo. Insanidade da nossa época: uma família que sai de casa no domingo para comer comida caseira! Se isso não é um sinal de insanidade, o que é? Todo mundo se junta e sai de casa para comer comida caseira.

Outra mostra de insanidade: nós temos um tecnologia de comunicação que gerou um nível de “incomunicação” brutal. - As pessoas estão isoladas, cada uma no seu canto, mergulhadas dentro da tecnologia... O prático nem sempre é o melhor. - Muitas vezes é só o prático. Exemplos: É mais prático fazer "caixa 2" do que trabalhar. É mais prático colar na prova do que ter que estudar.

Querer, Poder, Dever

Quero citar aqui o patrono da cidade de São Paulo, o apóstolo Paulo de Tarso, dos cristãos. Na primeira carta aos coríntios, ele diz que "tudo me é lícito, mas nem tudo me convém". Eu posso fazer qualquer coisa, porque sou livre, mas eu não devo fazer qualquer coisa.

Aliás, os cristãos dizem que Jesus de Nazaré afirmou, e está lá no Evangelho de Marcos, que "de nada adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, se ele perder a sua alma". - É uma frase fortíssima. Seja você um homem que tem religião ou não, tanto faz; a frase é forte. Perder a alma pode ser perder a sua integridade, perder a sua hombridade; é perder a capacidade de ser honesto, digno... Isto é, perder aquilo que nós não vamos levar e que é a única que vai ficar ou não: justamente a nossa identidade.

Paulo, antes de ser Paulo, era Saulo, porque havia uma tradição no judaísmo antigo de que aquele que fosse chamado por Deus mudava seu nome, renascendo para uma nova vida. "Arão" virou "Aarão". Saul ou Saulo era o nome anterior de Paulo. "Paulus", em latim, significa "pequeno". Os romanos tinham o costume de dar nomes segundo características físicas. - Claudius, de Cláudio, em latim, é "aquele que manca": daí vêm os termos "claudicar" e "claudicante". "Mário" vem de Marte, deus romano da guerra. - Paulo ganhou esse nome, que significa pequeno, para que tivesse humildade.

Ele se converte no novo homem, o "nascido de novo", no caminho para Damasco, atual Síria, quando cai do cavalo, literalmente, e no solo têm o que chamou de iluminação. Ali nasceu Paulo, o Pequeno, o humilde...
Ele ensinou bastante, porque tem gente que acha que para crescer é preciso diminuir o outro. Uma pessoa humilde é aquela que para crescer não precisa diminuir o outro. Para as pessoas arrogantes só é possível se elevar diminuindo alguém. E há pessoas inteligentes que crescem junto com o outro. Paulo de Tarso conseguiu fazer isso. Mas a noção de pequeno nem sempre se aplica à humildade.

Encerro com uma frase que eu aprecio intensamente, de um grande homem da renascença francesa, autor da obra prima "Gargantua e Pantagruel", entre outras:

"Conheço muitos que não puderam quando deviam, porque não quiseram quando podiam."
- François Rabelais


Mario Sergio Cortella é filósofo, mestre e doutor em Educação pela PUC-SP, onde é professor do Departamento de Teologia e Ciências da Religião e da Pós-Graduação em Educação (Currículo). Foi secretário municipal de Educação de São Paulo (1991/1992). É autor, entre outros livros, de A Escola e o Conhecimento: Fundamentos Epistemológicos e Políticos (Cortez), Nos Labirintos da Moral, com Yves de La Taille (Papirus), Não Espere pelo Epitáfio, Provocações Filosóficas (Vozes) e Não Nascemos Prontos! (Vozes).

Texto extraído do Blog Práticas da escrita em sala de aula. Profª Arlete Fonseca de Oliveira http://praticasescrita.blogspot.com/2010/09/filosofia.html

Ethos - Aqui se inicia


"Assim encima como embaixo".

A razão de uma sociedade que está progredindo para o futuro encontra-se naqueles que relembram das lições mais preciosas do passado. E como podemos encontrar na Tábua de Esmeralda, aquilo que está encima, reflete o que está embaixo ou vice-versa.
Abrir esse novo blogger não está nas mais difíceis tarefas e nem na mais fácil. Somos seres pensantes, dotados de razão e emoção que trilha por estradas tortuosas ou retas, longas ou curtas, boas ou ruins que impelem a tomada de decisões ao longo de cada minuto. Viver, respirar, andar, comer, relacionar, harmonizar é quase um programa nato na máquina chamada "homem". O resultado é a sobrevivência, a segurança, a auto-realização que dá-se num lugar comum, um ponto uníssono que entoamos juntos como mesmo fim, mas de maneiras diferentes.

Esse ponto chamamos de ETHOS, o lugar onde nascem os princípios e valores que levaremos para toda uma existência e perpetuaremos na história daqueles que prosseguirão na mesma estrada universal no qual apenas somos meros passageiros sendo o melhor que podemos ser.

Aproveitem sem nenhuma moderação para dialogar comigo nessa jornada onde convido a você a fazer parte de cada ponto, vírgula, interrogação porquê a ideia não é somente aceitar o que for dito e registrado, mas sim refletido no quanto isso merece importância e fará sentido para novas formas de galgar as mesmas escadarias e estradas para o futuro.

''Não há nada bom nem mau a não ser estas duas coisas;a sabedoria que é um bem e a ignorância que é um mal.'' - Platão